sábado, 18 de agosto de 2007

Livros e Livrarias


Você já prestou atenção à forma como tentamos pronunciar os nomes dos autores estrangei-ros? É estranho falar nisso, pois trabalhamos com eles todos os dias. Mas, cá pra nós, é complicado mesmo. Agora imagine alguém chegar numa livraria e pedir um livro do Máiquel Fôucalti. Sim, é isso mesmo. Estamos tão impregnados de anglicismos... Peraí, deixa eu explicar: estamos tão influenciados pela forma de pronúncia do inglês norte-americano que o Michel Foucault (Michéu Fucô – pronúncia correta) virou Máiquel Fôucalti. E a Simone de Beauvoir (Simone de Bovoar – pronúncia correta). Triste, mas é verdade, chamam como se escreve em Português. Esse não é um caso de influência tiosanesca, mas de falta de conhecimento mesmo.

Aqui e ali escutamos casos parecidos, alguns dignos de se registrar para a posteridade como o do rapaz de uma livraria técnica que tinha uma excelente seção de informática e se confundiu todo quando colocou a biografia da Duquesa de Windsor junto com os livros de Windows. Tudo começa com win, logo é tudo igual. Sabemos que o Windows é uma interface gráfica que um nerd biliardário cisma em dizer que é um sistema operacional; agora, juntar a desafortunada e falecida Lady Dy com um programinha chinfrim é o cúmulo. Tenho certeza que se a Rainha da Inglaterra soubesse disso teria dado gargalhadas mórbidas.

Há também o caso do balconista que não achava o livro do Rimbaud (Rambô - pronúncia correta) de jeito nenhum. Aí chegou para o gerente e disse: “Seu fulano, não tem o livro desse tal Rambô”. O gerente da loja disse: “Meu filho, vai na prateleira e vê se tem um livro de um autor chamado Rimbálde”. “Tem sim! Esse tem, seu fulano”. Esta me foi contada pelo Cavalcante.

Parece até coisa do tempo da Redentora, quando se proibiam livros por conter a palavra vermelho na capa. Dá pra entender o motivo da proibição do "Vermelho e o Negro"? Acho que não dá mesmo. E o velho livreiro, já falecido e que tinha um excelente papo, e nos deliciava com suas histórias, contou o sufoco que foi explicar para um agente da repressão que o Le Corbusier (Corbiziê - pronúncia correta) que deveria ter seus livros apreendidos era o arquiteto e que já morrera fazia tempo e não o filósofo Roland Corbusier (Corbiziê - pronúncia correta). Acho que tem um filósofo brasileiro devendo sua liberdade a um livreiro. É de chorar. Parece até o FEBEAPÁ do Stanislaw Ponte Preta.

E aqueles clientes que ficam horas nas livrarias quase todos os dias? Parecem até funcioná-rios. Conhecem todos e até ajudam a vender livros. Isso pra não falar de um rapaz que ia todos os dias numa livraria e comprava um livro. Só que para comprar, era feito um verdadeiro ritual. O rapaz, em primeiro lugar, verificava se o livro estava empenado. Depois abria página por página e sentia o cheiro do livro. Aí verificava meio que aleatoreamente as páginas em busca de falhas ou erros. Detalhe: se houvesse três exemplares do mesmo livro na loja, ele repetia o ritual para cada um dos exemplares. O dono da livraria me contou que certa vez este rapaz lhe disse: “Avise para a editora que o livro está com defeito. O pingo do i da página tal, parágrafo tal, linha tal, na palavra ‘idéia’ está meio apagado”. Podem acreditar, pois eu vi o cara fazer coisa parecida.

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